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sexta-feira, 29 de setembro de 2006

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Supermercado

Não consigo entender nem metade do que escreveste.
(…Ovos, azeitonas, tomate, cenoura, alface, feijão verde, cogumelos,

A confusão é tanta, que nem a outra metade que
limão, laranja, fruta variada, morangos amor, iogurtes eu,
sobra, eu consigo entender.
iogurtes eu, iogurtes ela, pescada,
Mandaste-me ir comprar tudo o que estava na lista.
sardinhas, peixe espada, leite, feijão, cebolinhas frasco, maionese,
Telefonas-me. Esqueceste qualquer coisa que não vem
mostarda, chá ela, agua tónica eu, café, café mistura, papel higiénico,
mencionada na lista. Paro no corredor dos enlatados.
detergente loiça, máquina, detergente chão, papel cozinha, alumínio,
Não te lembras mesmo do que era. Fazes-me recitar
lâminas barba, pasta eu, pasta ela, sovaqueira eu, pensos, alfinetes,
o que vem na lista. Sim, recitar! Não entendo que
açúcar mascavado, ,açúcar amarelo, panela 2 a 3 litros, sumo laranja,
coisinha será essa, tão importante para ter de ler dois
farinha bolos, gelatina, arroz,azeite, vinagre, frango, vitela, fiambre,
palmos de lista!
queijo fatias, queijo ela,
Quase sem respirar, mas sem forçar o fôlego. Parado
pala carro, pilhas comando tv, pilhas lanterna, lâmpada quarto,
no meio das latas de atum,declamo entre um tom
lâmpada escritório, suporte banheira, recarga ajax, guardanapos,
entediante na parte dos detergentes, até a uma paixão
comida cão, comida gatos, escova, gotas frontline, almofadas alpendre,
desmesurada e efusiva quando passo pelos iogurtes.
corda estendal, pregos, molas roupa, cabo euro av 5m, caixas arrumação,
Apesar de extensa, termino-a.
latas atum, gelado baunilha, extracto de menta…)
Faz-se silêncio. Não te lembras. Continuas sem te lembrar.
Desgastas-me a paciência numa frase disparata no imperativo;

-Lê de novo!


Já bufo, e tu mudas de tom.
Ronronas do outro lado do telefone, e eu derreto.
Explicas-me que nos faz falta, sempre!
Sem grande espaço de manobra, nem querendo passar por
mau da fita, reinicio a minha epopeia do recital de lista.
(...Ovosazeitonastomatecenouraalfacefeijãoverdecogumeloslimão

Desta vez forço o fôlego. As palavras coladas assemelham-se
laranjafrutavariamorangosmatinaliogurteseupescadasardinhaspeixeespada
a um acordeão. A imagem assalta-me a ideia, sorrio.No fim,
leitefeijãocebolinhasfrascomaionesemostardacháelaáguatónicaeucafé
novamente o silêncio. Tu, nada! Torno-me automaticamente
cafémisturpapeldetergenteloiça...)
num enorme pontode exclamação, mesmo um pouquinho
antes de me sentir frustrado e aborrecido.

E dizes-me, quase que a segredar, na tua voz de primeiro encontro;

- É algo que nos faz sempre falta. Não é que nos falte, mas dá
sempre jeito. Lembrei-me agora! Não é para comprares, mas
sei que me vais trazer!

- Mas o que é??

- Amor!


Soltas um sorriso de travessa e desligas-me na cara. Fico
(Vou para casa sem pensar duas vezes, beijar-te, encostar-te a mim,
parado, entre as latas de atum,feliz por seres assim.
agarrar-te e dizer que és minha, quero sentir-te assim amor, com força!
Abandono a viatura. Vou para casa dar-te qualquer coisa,
vais pagar por me teres obrigado a recitar a lista duas vezes, vais pagar!
enquanto lês a lista, pelo menos duas vezes de seguida.
não há nada para comer, alguém se esqueceu de completar a lista!)

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Entre um filamento e outro

Encaixa-me num jogo de luz, daqueles bem foleiros, vendidos numa loja de caras de limão. Servirei de ornamento, uma vez por ano para tua felicidade.

Caramba, esta minha mania de me achar importante. Sou apenas um filamento luminoso, no meu universo de 50 iguais a mim. Eu, por sinal sou vermelha. O meu grande Criador asiático assim o destinou.

- Tu! Vais ser vermelha!

Não faço parte de nenhuma estatística. Ninguém faz estatísticas de quantas lâmpadas se fundem numa árvore, de um 3º esquerdo na periferia da grande cidade. Apenas gosto do sorriso das crianças, e brilham como nós.

Passa a época festiva. Sou enfiada numa caixa de sapatos. O meu universo torna-se escuro, medonho. Viverei tanto do meu reduzido tempo de vida, bem no cantinho, ao fundo do armário. No ano seguinte pode ser que ainda funcione. Isso nem Deus (o meu Criador) saberá.

A festa que te é imposta, por certos valores culturais que eu, na minha pequena (mas justa) significância na tua vida, não consigo entender. Enches a casa de gente a que chamas família, com quem não falas durante 51 semanas. Não consigo entender. Só é bom quando cá estão, porque me deixas ligada o dia todo. E as crianças, ai as crianças…

Preferias que fosse uma lâmpada do teu espelho? Ficar ali, ver-te horas a fio. Naqueles dias em que nada deveria existir, eu ilumino-te, e nunca me agradeces.

Gosto quando acaricias o teu rosto à minha frente. As tuas mãos, engelhadas da água, passeando, sentindo a pele ainda húmida. Sim, és bela, e eu uma lâmpada.

Oiço os teus lamentos, expressos no teu olhar triste. Revives esse passado do que nunca foste. Nunca o serás, apenas passado de ti mesma. Estiveste sempre ausente. Até lá, assim como aqui, agora. Não estás!

Poderia ser a luz da tua cozinha. Ali, cravada no tecto, enclausurada numa caixa metálica, cor de branco electrodoméstico. Sou luz fria, tubular e sem piada.

Entre os vapores dos teus cozinhados dietéticos, o fundamentalismo dos preparados orientais, as manhãs despidas de palavras com os teus bocejos matinais. Sem falar de teres embirrado com os fritos, o mau feitio com que acordas, quando te irritas e trespassas a coitada da laranja. O meu momento de paz, é quando me apagas e sais de casa.

A tua presença, por vezes é insuportável. Sempre com a pressa de qualquer coisa, como se o teu horário estivesse preenchido as 24 horas. Ambas sabemos que não é nada assim.

Mas eu… eu sou apenas uma lâmpada fluorescente. Nem sou das modernaças, poupam um disparate de energia. Vou chatear-te daqui a uns tempos, quando o arrancador falhar. Vais jurar-me de morte e ditas a sentença. Tudo porque comecei a fazer um barulho horrível e irritante.

Eu, como lâmpada que sou, oiço todo o tipo de disparate. Até quando falas sozinha para a televisão. E tanta verborreia mental já ouvi de ti, e nunca te falhei. No dia que falhar… já sei o que me dirás.



- Merda da lâmpada, tinha de se fundir!

Não tenho vontade própria, dizem! Apagas-me quando já não sou necessária. Mas sou a primeira coisa que procuras, quando te sentes completamente às escuras. Nos meus 60 watts, vou ferir por segundos, esses teus olhos, lívidos de paixão.

Tanta vez te iluminei, e tantas mais optaste pelo caminho errado. Fui luz de cortesia no teu primeiro carro. Impressionada com as vezes que abriste as pernas a quase estranhos.

- Espera! Deixa ficar a luz acesa.

Naquele teu ar de ainda jovem, sabias muito bem o que fazias. Olhavas fixamente para mim, como um ponto de referência. Através de mim, expulsavas os teus demónios. No fim de tudo, sorrias. Não para mim, mas para ti.

Ainda hoje o farias assim...

Quis o teu Deus que te fundisses primeiro que eu. No entanto, nunca me passou pela cabeça pensar sequer, que a tua condição era tão igual à minha. Agora atrevo-me a pensar que nasceste já fundida, ou que tens um grande problema de corrente eléctrica. Não sabes funcionar, não funcionas mesmo… é pena, porque quando eu te faltar no escuro, não saberás para onde ir, tal como agora. Enquanto é dia, não me culparás de nada.



Caramba… apesar de tudo, como gosto de ser este filamento incandescente.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Emails entre Departamentos do Estado III

Heil camaradden!

Espero que o caro camarada se encontre de fina saúde e sem os quilos que tão bem o caracterizam!
Começo a indicar que a monotonia do campo de combate desta região isolada de Évora, (nome esquisito a lembrar os vermelhos) faz com que eu sinta uma nostalgia suave, dessa terra gloriosa da margem "esquierda del Guadiana"!

Suponho que porventura deverá já ter um pénis nas suas mãos, cheio de fios para arranjar. Talvez até tenha sonhos oleosos com pistons, porcas & afins. Nada melhor e vigoroso, que sonhar com um belo Panzerkampfwagen fálico! Shermans e T34 são para maricas.

E é exactamente por esta conversa que me debruço a imaginar, exactamente os episódios da nossa série, com o objectivo de moralizar os nossos soldado e cativar a atenção das gentes dos novos territórios ocupados.

Trata-se da atribulada vida de um rapaz/homem (porra, tens quase 28), que no trailler promocional da sitcom, surge com umas jeans cheias de óleo, a camisa de flanela aos quadrados, com óleo, claro. Limpando as mãos a um desperdício, no quintal, e pasme-se, quando repara que está uma senhorita a olhar para ele, sorri com a mesma cara com que um gnu olha para a sua fêmea!

Daí em diante será apenas a uma questão de delicada imaginação para as restantes personagens. O herói, trabalha para o pai, Verão e Inverno, sempre no barracão, sobre as mesmas chapas de zinco. O irmão, género de coelho geriátrico, que desata a fazer rebentos. A empregada metediça e inconveniente, que entra sempre em cena com perguntas inteligentes, "Oh Markus, ainda 'tás a mexer no berbequim?".

Um género onde o "Cheers aquele bar" será uma versão ranha. Podemos por começar com uma personagem delirante, como um gajo que apenas grunhe. Um amigo que parece um actor de cinema, mas que é uma bicha assumida. Que me diz, hã? Todas as séries têm um, e para cativar uma grande parte de gays do nosso mundo e talvez de Portugal, não poderia faltar!

Podemos ter uma namorada que constantemente o acusa de ser bicha e que o castiga. Depois no desenrolar da série, podemos mostrar um pouco da intimidade deles. Assim qualquer coisa parecida aos Alipampos e Pássaros Bisnaus da Papua-Nova Guiné.

Falta o bêbado e drogado. Dependente da avó, pai, mãe, avô, trisavô e do canário. Sim, é sempre uma personagem útil, para os pais assustarem as criancinhas caso não comam a sopa.

É claro que existem personagens que entram na série e saem. Como namoradas dos amigos, as conquistas do próprio Markus, que para os amigos será chamada de Steakennsteiger!


Espero por céleres noticias suas
Fritz, Gestapo






Caro Fritz,
Aqui o seu estimado camarada, encontra-se de boa saúde e recomenda-se. Espero que também se encontre em plena forma das suas faculdades mentais e fisiológicas.
Em relação aos quilos que tantos me caracterizam, o meu caro bem sabe que sou uma pessoa de carácter forte e vincado. Logo, os quilos apenas são denunciadores de uma mente supra-humana. Sim, porque nós somos superiores.

Bem reparei numa certa desmotivação da sua parte. A vida no gulag, capital da alta Sibéria do Alentejo, continua enfadonha. É curioso, tão enfadonha como o discurso de um secretário-geral de um partido qualquer bolchevique.

Vejo que o meu camarada não está muito bem informado no que toca à história do membro fálico. O pénis em questão trata-se sim, de um dildo e não de um pénis. Pénis é pénis, dildo é dildo. Ainda se lembra das diferenças?
Estranho é cada vez mais os fulanos do Departamento de Pesquisa de Armas… isto qualquer dia temos a Europa toda unida, armada em Maria-vai-com-todos.

Com efeito, ainda não se encontra nas nossas instalações para revisão geral dos 100.000 horas. Contudo, não foi impedimento para mim, procurar num motor de busca, os esquemas de peças do objecto em causa.

Já que a sua tão fértil imaginação é tão engenhosa a maquinar um trailer tão original, gostaria que tivesse em consideração os seguintes tópicos:
- Lembra-se daquela famosa cena do andróide, no primeiro filme do Alien, na altura em que o desmancham à pancada, e toda aquela confusão de fios. O mais impressionante de tudo, aquele líquido branco... hum? Posto isto, tente agora imaginar uma cena, mas com o vibrador fatal.
- Quanto à cena do rapaz/homem (porra que tenho quase 28), em que surge a fêmea. Não o querendo acusar de plágio, mas tal me fez lembrar de uma história da saudosa revista Gina. O mecânico que lhe mudava o óleo, tratava-lhe dos bornes, dos foles, da centralina, ainda dava-lhe um acerto na direcção, etc etc...
- A empregada metediça, que faz o buço com uma faca à Rambo (com aquelas fitinhas no punho), é detentora de algumas saraivadas à boa língua portuguesa. Apenas para exemplo, "dôia", "entarruado", "púzi-a", "atâ-nâ-sê", são alguns dos brilharetes.
- O jovem grunho, naquele eterno grito de uma adolescência reprimida e traumática. Não se esqueça daquele peculiar tique constante na perna.
- O não-se-sabe-bem-o-que-é. Homossexual ou bicha, como bem diz, todas as séries têm um. Talvez ficar assim indefinido seja ainda mais cativante, provoca discussão entre os adictos da série. Talvez dando para os dois lados seja, de certo modo, ainda mais ousado. Imagine a mesma pessoa, preocupando-se como irá defecar nos próximos dois dias que estará fora de casa, pois só gosta da sua sanita. O mesmo homem que lava as mãos antes e depois de mictar. Mais ainda, quando a namorada lhe diz, com ar guloso, que tem um fio dental vestido (ou enfiado..), a pergunta que lhe surge primeiramente naquela cabecinha iluminada é a cor do mesmo. Apesar do fio dental ficar enfiado entre os glúteos, a sua preocupação estética é gritante, é para que os boxers condigam.

- Agrada-me a ideia do drogado, bêbado, dependente de familiares até 6º grau de parentesco e de três gerações acima da mesma. Talvez introduzir um dependente, de ar inofensivo e cabelos de querubim, fosse digno de nota. Imagine alguém, semelhante ao bardo dos livros do Asterix. Um Assurancetourix (Chatotorix na tradução para a língua lusitana), mas em versão erudita e em discursos ricos em cosmos-e-aquelas- coisas-assim-do-género-que-nem-pra-engate-servem.
- A ideia de namoradas é boa. Decerto que muito generosa em inspiração para muitos, mas muitos episódios. Namoradas, namoradas dos amigos, namoradas das namoradas, amigas das namoradas, namorar com as amigas das mesmas, e aí por diante.
- Já que estamos numa de dar asas à imaginação, o meu caro camarada imagine um jovem serrano, deslumbrado com as luzes da cidade, torna-se num Casanova durante largos anos. Talvez por uma leve maturação mental, acalmou. Também se pode ter em consideração, que possa sofrer de algum tipo de disfunção, ou apenas um pouco de falta de "rancor".

Imagine esse Casanova adormecido... mas latente! Da mesma forma que um aneurisma, a qualquer momento... tau!!!
Espero que as minhas ideias sejam proveitosas, já que deixei de assistir ao fuzilamento das 18 horas. Aqueles fulaninhos que vieram daí, não valem as cascas que comem.

Como a minha dactilógrafa Helga se encontra de férias em Osterreich, vi-me forçado a utilizar uma famosa performer artística, que pinta quadros com a vaginnen. Fiquei deveras impressionado, quando me confessou ter pintado uma réplica da capela sistina, pasme-se, à escala real!

Não querendo preocupar-me com segundas coisas, como a limpeza da máquina de escrever, pois o mais importante é que esta missiva chegue às suas mãos com a maior brevidade possível.

Queira da próxima vez mandar plastificar o envelope, pois o seu estafeta, para além de ter deixado a tripa no meu tapete Persa, sujou a carta com sangue.

Sem mais delongas, deixo um pesar pelo Gil Vicente e o seu comandante Fiüzen (aquele homem com farda de general alemão e com aquele modo tão peculiar de falar, ficava uma coisinha linda, não acha?).
Um forte abraço, do seu camarada
Schutzstaffel, SS (Propano Industrial)
P.S. – Não querendo ser intrometido na sua vida íntima, mas tenho de lhe perguntar se ainda tem sequestrada aquela judia morena. É que pelo que ouvi dizer, quem veste as calças lá em casa é ela! Qualquer dia ainda o vejo de tanguinha vermelha, a roçar-se de forma lasciva e deliberada num caniche. Caramba, o camarada é mesmo um devasso!

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Emails entre Departamentos do Estado II

Heil mein freind!
Se bem entendi, o meu camarada está neste momento no ramo da espeleologia. Tentando, penso eu, tirar o maior proveito das maravilhas naturais. Tudo bem... mas acho que apenas se referiu a uma parte da questão que lhe referi no último comunicado efectuado. Ou seja, soube da existência da senhora. Talvez, pura especulação minha, sua companheira na espeleologia. A qual eu vi, e que você, vil, tentou rodear, ludibriar, ou fazer esquecer-me que eu a tivesse visto!
Ora, você devia dar-me mais algum crédito! Quem era afinal a querida frau, que estava consigo na praça do quartel? Eu, claro, suspeito a sua escorregadela de sabãozinho azul. Sugiro então ao meu camarada, que me informe, sucintamente. Quem era a Mata-Hari. Ou por exemplo, se existe algum progresso em relação à sua situação com o segredo de Fátima!

Os melhores cumprimentos
Seig Heil! Fritz, Gestapo

Junto à carta, anexo uma lembrança de outros tempos. Ahhhh.. aqueles campos da Baviera Alentejana...



Caro Fritz,
O ramo de espeleologia apenas está a ser explorado devido ao encerramento da nossa sabida fábrica de mísseis V2. Foi necessário a exploração de orifícios naturais mas bem camuflados, apesar da pouco densa mata que prevalece no vale deste nosso inóspito território.
Como bem sabe, a minha formação é em prospecção. Não se esqueça dos meus feito heróicos em pleno mar do Norte. Sem nunca dar cabo da ponta de diamante... drilling... drilling... e zás!! Bacalhau & petróleo!

Regressando ao que realmente importa, a personagem em questão, é uma camarada vinda directamente de Antuérpia (capital mundial da transacção de diamantes). Sabe o que significa reunião intensiva para ajuste directo de preços, certo? Pois bem, não se esqueça que para qualquer tipo de prospecção, as brocas multi-diamantadas têm sempre um peso elevado no orçamento. Queira saber que as negociações foram até ao âmago da questão e saldaram-se muito positivas.

A personagem, esclareço novamente o meu caro camarada, que tal pessoa, nossa camarada com o nome código Helga, encontra-se em missão de espionagem na cidade invicta. Dado ao meu catedratismo em prospecções, fui aliciado a fazer os restantes túneis do metro, Gaia inclusivé. Tudo um estratagema para ultrapassar a fronteira do inimigo, entende?
Quanto a pormenores, acho que fui sucinto e explícito no comunicado anterior. Poderei apenas adiantar que as vistas do castelo de Serpa são muito interessantes de determinadas perspectivas. Agora eu compreendo porque o meu camarada falava tanto do castelo e suas majestosas muralhas.

Apesar da reunião ter sido uma espécie de blitzkrieg, tenho a dizer que me sinto tão bem, mas tão bem, que estou tentado a enviar-lhe 10 vagões de bolcheviques congelados, para jogar tetris nas horas vagas.

Seria escusado tentar ludibriar o meu caro camarada dizendo-lhe que se tratava de uma prima minha afastada, proveniente do Turquemenistão.
Quanto a segredos de Fátima, bem sabe meu caro camarada que não sou muito dado a hóstias ou a qualquer tipo de manifestação de fé. Talvez exceptuando no que toca à utilidade de um genuflexório portátil, para práticas missais e afins no nosso quotidiano. Distribuir pelo menos uma unidade por cada lar, seria de ter em elevada conta.

Sem mais nenhum assunto digno de nota, subscrevo-me novamente com grande estima e consideração.


Atenciosamente
Schutzstaffel, SS (200 octanas)

Já que falamos em saudosos tempos, envio-lhe uma lembrança de família. O encontro dos ex-meninos de coro da igreja, mais o nosso Piruças (tão velhinho que está). Andámos nós a gramar missas e mais as hóstias todos os Domingos. Será caso para dizer, todos bons rapazes. Melhor ainda! Andou uma mãe a criar um filho para isto. Agora passamos os dias a carimbar papéis e a preencher formulários de IRS. Malditos bolcheviques!

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Emails entre Departamentos do Estado I


Heil!

Estimado camarada. Venho de forma rápida e precisa, perguntar-lhe quem era afinal a misteriosa mata-hari, very blonde, que estava perto de si? Coincidência? Não me parece!

Segundo fontes seguras, tenho a informação de ser uma personagem nórdica, proveniente da tundra invicta.

Então, descosa-se!




Atenciosamente:
Fritz, Gestapo





Caro Fritz!

Venho por esta missiva electrónica informar o seu departamento que tal senhora que foi vista ao meu lado, de facto fazia-se acompanhar da minha pessoa. Corresponde perfeitamente à realidade e quanto à mesma não poderei refutar, ou de qualquer forma argumentar em contrário.
Não se trata de uma Mata Hari porque o serviço de contra espionagem de momento encontra-se e fase de manutenção, e os bigodes postiços ficam caros. Digamos que é um novo projecto de relacionamento e projecção de várias formas de trocas de impressões inter-pessoais, englobando também um pouco de uma sagaz alegria.
Não poderei entrar em pormenores pessoais ou de qualquer tipo de circunstância que envolva minuciosidade afectiva ou de nível físico. Compreenda que qualquer departamento desta nossa grande e majestosa comunidade, é sempre justa e leal para com os principios básico de bom comportamento e cidadania. Nunca esqueçamos os também sempre importantes principios éticos, nos quais toda a razão tem a sua consciência.
Quanto a supostos boatos, que até me parecem credivéis, possivelmente verificaram-se no campo de trabalho. Confesso que um bom e bucólico dia de vida no campo, faz bem à mente, sem falar nas vantagens físicas de respirar o bom ar da Natureza.
As actividades adjuntas que se podem retirar do local em causa também me pareceram aliciantes, tais como a Espeleologia. Caso o meu caro não saiba correctamente de que se trata, aqui deixo esta nota;
Espeleologia - s. f., parte da Geologia que se dedica ao estudo e exploração das cavidades naturais, tais como a formação das grutas, cavernas, fontes e águas subterrâneas.
Em termo de últimas considerações a fazer neste comunicado oficial, autenticado e reconhecido pelas autoridades competentes em causa, é ainda digno de nota a sua reacção ao vislumbrar o meu aceno. A sua cara meio boquiaberta pareceu-me tão estranha que pensei que tivesse sofrido momentaneamente de algum paralesia facial. Não esperaria talvez um cumprimento da minha parte. Seria assim de tanto pasmo um breve aceno da minha mão para um bom amigo e camarada? Presumo que foi por me ter visto de dia fora do bunker...

Sem mais delongas, deixo por último uma saudação de amigo camarada e companheiro de luta. Sempre pelo bem das pessoas e dos bons costumes. Abaixo as sacanices e malandragem!





Atenciosamente subscrevo-me:
Schutzstaffel, SS (Super S/chumbo)



P.S. - É um ultraje ver a nossa cerveja ser vendida a preço de uva mijona, ali no supermercado dos bolcheviques e demais rafeiros (vulgo Lidl). Argh!
(Agradecimento especial ao meu amigo e camarada O. Tu e eu pah, é aquela máquina, maschinnen!!)

terça-feira, 19 de setembro de 2006

No Momento

Arranquei uma folha do caderno, para te contar algo, como se fosse um segredo.

Decidi dividir tudo em frases, sem pensar ao certo no que te vou dizer.

Talvez não passe daqui mesmo, porque me sinto meio estúpido e atrapalhado.

Nem sei mesmo como continuar, ou então, tudo não passa de um freio automático que tenho dentro de mim.

Até agora, sem dizer nada de especial, sem nunca ultrapassar as duas linhas por frase, consegui com certeza que me chamasses parvo.

E parvo continuo, porque imagino-te a sorrir. Eu e esta mania de ter um dedo que adivinha, certo?

Lembras-te das coisas que te faço no supermercado, ou quando te empurro contra o armário de metal?

Lembras-te quando me dizes, num suposto ar indignado, as pequenas mazelas que deixo em ti?

Pronto, eu calo-me. Sei que me rogas uma praga, sem ter dito ainda o que me trouxe aqui.

Acabo de beber o café. Coço as costas em jeito de malabarista. Tu que te atrevas a dizer que estou aqui a encher chouriços.

Dobro a folha conforme vou escrevendo, sem nunca desviar mais de um palmo, a cabeça do tampo da mesa.

Pois bem, e está uma excelente noite de Setembro. Sem nada dizer, sinto-te feliz. Apenas estou aqui, porque gosto.

É assim, não é?

E vou continuar por esta folha, que por sinal já vai a metade…

Até agora nada te disse, mas suspeitas do que te diria.

Poupas-me a não sei bem o quê. Deixas-me mais tempo para demonstrar como o sou…

Sim, é isso, parvo.

Espero roubar-te mais um sorriso, acho-o fantástico!

Sem pretensões a nada, apenas desta vez. Vou escrever mais quatro linhas, enquanto não chega a água tónica.

Seja esta a primeira, e digo-te que sou louco!

Estando na segunda, vou confessar que esse mesmo sorriso me dá vida.

Na terceira linha, apetecia-me derreter-te no meu peito, em banho Maria.

Na última, somente aqui neste papel, vou-te dizer que vou dar continuidade a tudo isto. Ser parvo? Não! Quer dizer, também… mas amar-te, hum?

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Lábios & Lâminas

Lábios que são lâminas
No teu gume de desejo
Toque carnudo que me trespassa
Nas tuas duas armas afiadas




Lábios que são, meus nos teus
E nos outros teus...
Que também são, fina flor de requinte
Lambo-te o aço, a frio cortante




Sangue quente em que penetra
A minha espora, num beijo intenso
toca-me, toca-me...
A tua frieza pálida, no contraste da minha pele




Nos teus lábios que são pêssegos
Na tua seda manchada, da minha saliva em ti
Manejo, cortanto em finas fatias
Todo este gosto em beijar-te




Fere-me os lábios, em florete de esgrima
Forja-me a cada impulso, de cada vez que me desejes
Quero-te sentir nas minhas mãos, dentro de mim
Trespassa-me paixão, até não haver mais Eu




Afiada, quero-te de olho vivo, atenta
Segura-me até que escorra todo
Entre as tuas bainhas e laminados
Exaurido, na última gota de mim




Dedico-me a ti, nesta nossa arena
Enfrento-te, nos meus lábios de gládio
Olhando-te, no teu tom azul do meu mar
Em que os nossos lábios são armas, d'amor



imagem: Marco Neves

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Marco

Ligas a noite e tiras-me o sono
Fico acordada, em plumas para te ver
Acendo a minha paixão, mesmo quando a Lua chega
Quero tocar-te, quando anoiteces
Quero que estejas ao meu lado, quando eu...




Porque amanheço sem te ver
Porque me fazes brilhar... e tanto que te quero abraçar
Sou louca por te querer ao nascer de um dia
Sou louca por querer ver-te ao findar do mesmo
Porque amanhece em mim, tanto querer-te


O calor que trazes na tua boca, nas palavras que me diriges
Quero saber-te a lima, na acidez de te despertar
Junto de mim...
O vento que trazes no teu peito, o silêncio dos teus passos
Sussurros de que és feito, a inúmeras vozes na noite
Amor, segredo-te, o que és para mim...




Encanta-me quando adormeces o mundo
Nas tuas mãos, a magia dos sons que desvendas
Ao relento, na leve brisa, refrescas cada parte de mim
Aguardo-te, no mesmo sonho que partilhamos
Em ti, o teu saber de tantas noites




Seremos sempre, o nascer e o findar
No dia que nos une, na noite que nos cola
Olha para mim, nos teus únicos olhos de ver
Meu manto de estrelas, acolhe-me no teu coração
Porque és...


imagem: Marco Neves

Dawn



Floresta de longas tranças na manhã rubra
Riacho em que adormeces o teu amanhecer
Alma em corpo de fada
Encanto de noite madura
Dor de mil estrelas quando se apagam
...quando amanheces...

Sou louco por te conter enquanto durmo
Sou louco por não te poder beijar, durante o reinado do Sol
Ontem, hoje, amanhã...
Sempre...




Contrasta a minha dor com o meu desejo
Combate o meu desejo com a minha prisão
Não te toco, pois vejo-te
Sonho-te por não te tocar... e somente assim te vejo

Porque nasci crepúsculo de uma vida
Numa distância, essa, de mim a ti
Apago-me, numa lentidão já minha conhecida
Aguardando-te, esperando-te durante um sonho
Breve que seja...





E ver-te, olhar-te nos meus olhos de sonho
...sendo já fim de madrugada
Morrendo a cada amanhecer teu
E a eterna distância que nos afasta

Acendo velas... apagam-se com o teu encanto de sorrir
Canta-me, assim como eu espero por ti
Encanta-me, assim como eu estou em ti
És...


imagem: Marco Neves

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

HmmMMMmmmm...! :)




É agora! E tanto que a semana custou a passar... ouch!
E fica-se ao som de Kika Santos, porque gosto, muito!
Bom fim de semana.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

...puf!



Em milhentas vezes que nos encontrámos, algures por esta atmosfera, nunca me lembrei de te ter perguntado... porque vives em mim?


Imagem:Marco Neves

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

sábado, 2 de setembro de 2006

Olhar

Um fugaz olhar
«Olá…», respondes-me
Olhamos para o chão
Gestos comprometedores
Agarro-te na mão, fugimos
De nada, de ninguém
Fugimos porque nos apetece
Sorrindo com malícia
«Paixão», dizes, apertando-me a mão
Tens força..
«Paixão…», repetes
Alongas a palavra
Até não teres fôlego
Escondidos levantamos pó
Um beijo roubado



Assaltas-me a roupa
Rasgo-te
Superfície dura e fria
Nuca de encontro à parede
Revolves-me
Envolves-me
A tua saia desalinhada
Vergões, arrepios



Roupa húmida em corpo quente
Chove, faz frio
Sapatos com lama
Joelhos esfolados
Olhos nos olhos
«Não faças barulho...»
«Não sorrias assim... ai! Parvo!»



Atrevo-me...
E também quem sou
Pulso com pulso
Corpo no corpo
Queimamos...
Sofrendo de prazer
Acendemos cigarros
Ajeitas o cabelo
Continuamos viagem
«Perdi uma meia..»
Gozamos, sorrindo


imagem: Claude Théberge