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sábado, 24 de fevereiro de 2007

Hoje deixei-te um recado

Traço fogo, de azul que já não tomo
bebendo em goles que não encontro
qualquer outra paixão senão aquela
daquela que mata e dissolve
qualquer outra que possa existir

Fruta verde, sem bicho que aparente
nas tuas mãos, que me são água e perfume
concedo um lugar à fome, por te ainda mais querer
Amor, de que a sorte não é feito
nem ouvido por melhores vozes que as nossas

Mais pequeno me sinto, quando te abraço
em todo o teu olhar, encontrando quem sou
procurando ser mais do que já sou
porque amar-te não é o bastante, tão mais será viver-te
em mãos que se unem e agarram

Colher-te cada dia, em todas as manhãs que temos
somos unos, enlaçados e devotos de nós
sem que a corrente me leve ao naufrágio de não te ter
em mim, no abismo do peito
na falta que seria não haver a metade que me dás

Quero sorrir-te, sendo o teu menino do mar
talvez ser-te planura, companheiro que te desejo ser
são estas as mãos que escrevem, no meu olhar que te procura
fazer-te feliz neste instante, nestas palavras que nada mais são
pequenas linhas de amor, de tudo o que me és, meu coração


Para ti, Amor.




sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

A|b|negação

Não escrevo, nem canto
um encanto, verso liso de pranto
Não escondo, nem mostro
a voz que trago nos olhos

Não abraço, nem morro
em campa rasa, com a minha graça
Não escolho, nem encomendo
prato limpo, alimento que falta

Não nado, nem embato
escondidos escolhos, pedras que vi
Não seco, nem molho
sem saliva minha, sem sabor de ti

Não começo, nem acabo
julgando ser, onde já não sou
Não fui, nem sei se vou
ou sou o que seria, em ser que está

Não estou, nem vou
acabar no fim, sem haver começado
Não sei, nem bebo
sem gosto de não saber, sabendo que sou

Não remendo, nem rompo
a bolha em que vivo, a mesma que prende
Não recomeço, nem inverto
a investida contra o tempo

Não acedo, nem recomendo
à invicta causa, de pensar saber
Não transbordo, nem entorno
vinho de transtorno, bebedeira de mim

Já não risco, nem contorno
linhas que segui, em torto que sou
Já não quero, nem quero jamais
deixar de ser quem sou, sendo o que fui




quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Decência

Não poderia começar melhor esta página que deixei em branco, em sensação semelhante na escrita. Pureza perdida em escrita corrente. Esta é mais um pergaminho, um trecho sem causa, deste pequeno caminho e do resto que já para trás ficou. Quedo-me na imundice humana, porque nem um grito me salvaria. Denuncio-me naquilo que me resta, tudo.

Após o incêndio, as cinzas em que alimento a esperança, são o bastante para na minha cara, herdar em despejos que são, ornamentos de amor. Sem que me falte algo, tudo o que existia e ardeu, em mácula violada. Descuidada, desfi-la num instante, dissolvendo-me em cor desmaiada de amor. O que já não existe, não carrega lembrança, muito menos saudade.

Nos dias maiores, em que o sol não me permite morrer na humidade das coisas, nada me infecta ao que me destino. Sou cobrado a cada instante que pense e sinta, o flagelo desleal da veracidade, o horror do anoitecer.

Não tenciono gastar-me demasiado já, na pedra que arrasto com o pensamento. Muito mais há que pensar, sem que seja redobrar-me em cuidados à mão da maldade. O que é mau também me alimenta, mesmo que agonie, alimento-me da própria fraqueza. Aguenta-se a ânsia que me quer sair pela boca, aquela que me trazia em vísceras, toda a música que se torna causa de parte minha extinta. É no gesto da melodia que morro, assim o foi, assim me dói.
Os espelhos são curas e tormentos, nem os olhos sabem o que olham. Brindarei mais vezes que todas as que me apeteça. Porque sobrevivo, honrando quem acreditava naquilo que carrego dentro de mim. A bondade, essa, está apenas onde nada, mesmo nada, tenha por alguma vez sido tocada por mãos humanas.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

A comédia

Aqui, já não sou
nem estou
muito menos existo.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Treze, sou eu.

Espero ser breve, porque enoja-me escrever. Hoje quero aproveitar o que me foi dado a sentir, até ao limite de querer adormecer, até que morra, aqui dentro, no que me corrói.
Escolho os caminhos solitários, até chegar a uma mesa isolada, num café abandonado. Quando não se quer, evita-se. Está longe de mim admitir ser uma espécie de hipocondríaco sentimental. Admito sim, ser adicto desta estranha, por vezes tenebrosa, vontade de sentir.
Esta noite vou tomar de assalto, pilhar e destruir tudo o que não me interesse. Necessito a derrota. Todas as horas e em todos os momentos cruciais, resolvi-me, aqui... sempre dentro de mim.
Renuncio ao altruísmo, rasgo qualquer hipótese de atapetar a veludo, tudo o que me corra na veia. Hoje, nada me importa, nada me impede de ficar indiferente.
Repito-me, sem conseguir captar um pouco que seja, desta esplendorosa dádiva de mau estar. São nódoas que se acumulam, espelhos que não reflectem a imagem guardada. Exaspero em sentido, déspota que estou, na minha redoma. Sou intocável, impenetrável, alienado porque tudo já não sou.
Não pretendo concluir, muio menos acabar as ideias. Terminante, sinto-me sujo em ira. Consumido em demais frases, escorrendo no negro sangue da tinta.
Nada conseguirá surpreender-me. Nada brilha no escuro em que me pinto. Tingido, espero desbotar-me à chama inquisidora do engano. Dançarei na minha vaidade, orgulhosamente só.
Hoje, o mundo causa-me impressão. Esta impressão nas entranhas, quase ao ponto de me provocar convulsões, em sangue que já não quero. Hoje, cuspo na face que conservo, festejando em muito mau sentir. Haja saúde, para tudo o que se preserva intocável, deste primitivo desalinhado.
Dou-me ao luxo de até ser desnecessário movimentar-me. O Mal, esse meu comparsa “fiel y muy nobre aliado”, dedicado nestas horas. São dias que se sedimentam na minha alegria. Porquê? Porque sou invencível. As amputações e demais estropiações, apenas marcas de caminho.
Não me importo, já não, de premonições claustrofóbicas. Este coração que só eu sei como é. Serei mais devoto, dos azares e vicissitudes, porque me expandem.
E cada vez mais alto e disperso, de um infinito a outro, entendo que conto apenas comigo. Voltarei atrás, compenetrado em toda a área que só a mim me pertence. Este espaço, o meu corpo, em alma que materializo, é só meu.
Ouso a digerir mais fel, a drogar-me no ódio, mesmo sendo demasiado fraco. Pago o meu preço, viver.
Quando chegar a noite, irei abandonar-me ao desconhecido. Lá, apenas no espaço sem formas, reconheço o rosto que sou todos os dias.
Um dia contemplativo da marca que me deixa. O “treze” irei guardá-lo, cravá-lo até que a dor não seja mais que isso, apenas dor. Não permitirei a partilha, a exclusividade de nascer e morrer em mim... é minha.
Brindo a ti, meu amor, porque em muito me subestimas.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Fome

Ela não sabia que a perseguia, durante todo o dia. Quase como sagrada, a sua rotina variava apenas pelo meu desempenho em tentar nunca perdê-la de vista. Dissimulado entre a cidade diurna, corria atrás do seu inebriante cheiro. Provocava-me a sensação de predador. O controlo que tinha em todos os seus passos.

Ao princípio, unicamente concentrado em saber tudo o que fazia, tornei-me obcecado conforme me diluía mais na sua imagem. O começo de tudo, perdido num dia qualquer, num cruzar vulgar, na partilha do mesmo passeio, em sentido contrário.

Era um monstro que alimentava aos poucos no meu interior. Tendo a consciência que o devaneio me tinha tomado, o passo era demasiado grande para conseguir apartar todos aqueles pensamentos levianos. O impulso chamava-me.

Despia-a de cada vez que parava diante das grandes vitrinas das lojas. Aquelas pernas torneadas gozavam-me por não as tocar. Falavam-me, a cada passo que davam.

Parava no mesmo café, na sua mesa habitual. O batom que colava na chávena de café. Tudo em si era importante para mim, mesmo que o seu quotidiano me parecesse semelhante a uma ordem suprema de acção sintética.

Salivava por dentro, espiando os seus passos em casa. O recanto escuro da rua era o meu aliado. Abrigado no meio dos contentores do lixo, alimentava-me do sonho que via. Durante noites a fio, e mais noites corria-me em suores e tremores.

Saturei-me. Desconfiei do óbvio que toda ela indicava ter-se tornado. Demasiado fácil segui-la, parecia facilitar-me a vida. Um certo incómodo de tom alerta, já me sentava na mesa ao lado da sua. Senti-me enganado. Saberia ela desde o início que a seguia há tempos?

Constatei que, na verdade, o seu perfume me enjoava. Sem querer, e já longe da minha veia doentia e anormal, o seu hábito ritualista tornara-se o meu também. Detestava admitir ela se entranhara em mim, até aos ossos. Nos meus movimentos aprisionados, condicionados aos seus, era asfixia lenta. Na minha pele, agora, mesmo que não quisesse, encontrava-a em todo o lado.

Cruzarmo-nos já era demasiado para mim. Desmoralizava-me mais, a cada dia seguinte, abatia mais forte sobre a minha cabeça, a violenta tempestade da sua imagem. Ela seguia-me. Seguia-me para que voltasse a segui-la.

A vítima acabava por escolher o seu próprio predador. O controlo não era de quem comandava. Quem controlava, não era que perseguia. Quem perseguia, era a própria presa, eu. A teia de ambos, em emaranhado e descompensado jogo viciado. O beijo, letal, vitimava a fome de posse.
Segue-me, segue-me mais de perto. Excita-me sentir que os seus olhos a percorrer cada parte minha. Todo o meu corpo trespassado, tornando-me fonte de desejo em cada olhar. Facilitei-lhe um pouco, calcorreando sempre os mesmos caminhos, repetindo os hábitos.

Em casa, despia-me bem devagar, estrategicamente na janela da sala. Dançava sozinha, como possessa, só para ele. Nua, louca pelo êxtase de saber que me espiava. Quente, mais quente que a própria palavra. Ao rubro, sentia-me arder, por dentro, por fora. Imaginava-o tenso, rijo de ganas. Entrar e sair, da fria intempérie no exterior.

Deitava-me na cama vazia, envolta apenas nos húmidos desejos. Queria vê-lo entrar, todo, de uma só vez, por aquela janela.

Esperava-o a cada noite, e sem resistir, espreitei. No escuro da casa, mirando desde a janela inviolada, vi que já lá não estava, apenas o lixo doméstico.

Frustrada por não me alimentar mais que o desejo, a fantasia de me tomar de assalto. Sentia-me violada pela decepção. Furiosa, acusei-o de amadorismo.

Resolvi evidenciar-me em tiques neuróticos. Queria atacá-lo, morder-lhe sobre as calças, despi-lo com a minha boca, à força. Queria rasgar-lhe a camisa, bater-lhe cada vez que respirasse. Ensinar-lhe o que deve fazer. Vou, na minha crueza, transformar-me por inteiro num acto, comê-lo.

A sede em doença, carne em maior fulgor de flagelo. A cegueira de consumir a frustração, desejava ser penetrada, até ao fundo, pelo explorador istmo do seu desejo.
Fugia-lhe por entre a multidão. Corria, corria como um louco. Faltava-me o ar, só de imaginar como seria cruzar-me com ela, vezes sem conta. Temia-a pela hostilidade da sua presença.

Tentei emendar o sentido da minha existência, em desespero de causa. Procurei novos caminhos, diferentes de qualquer outro. O meu desespero por não conseguir arrancá-la da pele, era um grito escuro e abafado dentro de mim. As minhas emoções quase apagadas, esquecidas numa recôndita sombra da minha mente. Enlevado nas emoções maiores, estava envolvido numa trama, em papel desesperado, em fuga.

Rápido, desviava-me das clareiras humanas. Escondido na confusão, tentava dissolver-me entre ruelas e esquinas. Escamoteado, sempre engendrando um plano de fuga, entre um pensamento e outro, estava em aflito momento. O pior de mim em evidência, o medo paralisava-me. Confuso, porque quanto mais me sentia cercado, mas a adrenalina me tomava.
Vou caçar-te, comer cada parte de ti. Vais ajoelhar, pedir pela trela da sentença. Vou seguir para que me sigas. Vem, segue a tua dona.
Determinado a terminar com o papel que me tinha sido destinado, pensei. Senti. Olhei-me no espelho, após um duche de gelo. Nu, olhos nos olhos, desafiando o destino de fracassar e nota de medo.

Vou atacá-la, sem contemplações. Sim, esta mesma noite. Desafiar a minha capacidade de escalar muros e janelas. Termine como terminar, maior prisão que viver somente em mim não existe.

Desvio quem se atravessa à minha frente. Olhando para o alcatrão, húmido, lambendo-o com os meus olhos. Como se guardasse o sabor da sua pele. Acendo um cigarro que arde em vício veloz. Cinza maior, nervosismo casual. Será apenas o frio que se alia à minha vontade.

Tenho esta vontade, na ponta da minha língua em cada pétala sua. Engolir cada gota seiva que lhe escorre pelo ombro. Correr no seu labirinto, nos nós e anéis que traga na madeira. Controlar a sua corrente, em barragem, para a água que tanto quer seguir o seu rumo. Fora, para fora de mim, expelir-me em tantas ou mais gotas que me escorram pelo rosto.
Ele virá. Tenho a certeza que virá, seguro de si, da viril certeza, bem no meio das suas pernas. Neutralizá-lo aqui, bem no meio das minhas. Gemendo horrores que são prazeres, embuste que é desgaste forçoso dos corpos. Comê-lo, sendo comida. Tenho esta fome toda para dar, e tanta mais, para oferecer.

Faminta, e as horas que teimam em passar neste odioso compasso de espera. Fico desnorteada por o fundo da rua ainda se encontrar vazio. Quase que não me aguento, em agonia de não me querer sentir, para não explodir. Desligo a luz…
- Tu vens…

- Eu subo

- Tu entras…

- Eu deslizo

- Tu comes

- Eu gozo

- Tu mandas

- Eu repito

- Não pares!

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Estranha aparência... real.

Deitada na cama, todo o quarto me parece igual. Na estranha aparência que liga a realidade ao que vejo, por raros momentos, tenho a noção de que o mundo gira no sentido correcto.

A quebra do silêncio, na minha profunda respiração, olho para bem mais longe que as persianas meio cerradas. Pestanejo, sinto o ardor no olhar de quem tanto olha para nada. Acima dos meus ombros, bem acima de qualquer suspeita, desespero pela rugosidade instalada nas minhas paredes. Toda a muralha do meu reduto, faz-me morrer sozinha no dia.

A tarde, essa que morre comigo, na sua lentidão do costume. Acompanho-a. Oferece-me as suas mãos, como amante que me embala. Desejava conseguir acompanhar o teu coração, como a sombra segue o sol. Ali, para além do horizonte, tudo mais que a minha realidade.

Nos olhos de ver, é tarde demais para recorrer a uma acção que interfira com a inércia. Fico-me na quietude, no estranho combate em que tudo se entranha, na minha voz que te grita. Incessante e exaustiva, é sim, toda a minha vontade de te abraçar. Este espelho que me enegrece, deformando o que já por si está, as horas que passam em corrente maior, sem que me sinta segura aqui.

As asas que me ofereces, de cada vez que nos encontramos. És tudo o que nunca achei, mais além daquilo que procurava. No teu silêncio carregado, calcas a minha pele. Arranhas-me com o teu sussurro de emoções. A sensação de me beberes quando consumamos o gesto, quando sais de mim e me deixas quente por dentro.

A estreita linha que nos une, bastante para fazer do mundo um lugar pequeno para nós os dois. Tu e eu, a cada reencontro, a entrega que se dá neste sentido, voraz em esquecer tudo o resto. Tu e eu, paixão. Amor, permite-me que te trate assim, Amor.

Queria poder agarrar-te com mais força, em vento que enche as velas. A vontade, tanta mais que toda aquela que possas imaginar. Queria prender-te ao meu peito, colar-te em todo o espectro de luz que és, um outro brilho. As tuas mãos, macias no toque, fortes na posse, no meu quadril despido pelo nosso desejo. Amor, diz-me em voz segura, não te permitas mais a esta longitude que nos aparta do mesmo entardecer.

Mesmo que me mintas e te escondas, atrás desse mesmo papel inventado por ti. Mesmo nesse teu mau génio que admiro, diz-me que o teu coração, na bondade do homem que preserva, não se esquece de quem espera.

Concede-me o desejo de me apoiar em todo o teu trono. Aveluda-me a língua, gasta por esgotar-te em palavras que te chamam. Oferece-me outro do teu sorriso, tornando bem maior o orgulho por te sofrer em cada instante do dia. Esperar-te Amor, em que nem as pedras ficam indiferentes, as mesmas que servem de referência, na rota de te voltar a ver.

Que me ardam os olhos de tanto te olhar. Que te ame em palavras semelhantes, daquelas que me escreves. Eu, palavra em que me transformo, Amor, palavra que te sou e pertenço. Escrevo-te no escuro, no mesmo que guardo a minha saudade. A sombra que nunca te larga, a mesma que segue o sol, até onde estás.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

|V|a|m|o|s|

Abandonar, em cinzel que marca
Socorrer, em palmo gigante de mão
Cuspir, toda aquela porcaria que enoja
Bater, no que pretende não quebrar

Vamos, seguir em raciocínio claro
Espirrar, em sintonia com o que nos afecta
Infectar, injectar, inalando até adormecer
Vamos, em plural singularidade, de mão dada


Curtir, no som que provocamos na cama
Explorar, mais aquele recanto que se apresenta só
Vamos, espiolhar, desavergonhados, marcando a pele
Devastados, pelo suor que nos cola até aos sentidos

Vamos, nascer com o sol, aquele café... aquele...
Apetece-me ir, vir e voltar a ir, vir e voltar...
Tactear, de olhos vendados em escuro silêncio
Diz-me, viva voz que me orienta no dizer - Vamos!

Derrotar, no naufrágio, somos monstros redentores
Tresloucados, no papel de infames possessos
Exercer, aquela gostosa pressão no teu abdómen
Querer, arrancar-te das folhas sem te morder


Vamos, saber voar mais no sonho
Adornar, em papel de parede com relevo
Juntar, luz em lucerna prata
Quebrar, alma em jejum do teu cheiro

Vamos, vamos indo, andando
Pegadas, as nossas, de paixão que nos assola
Assalta o cofre, sarcófago de males deste bom malandro
Respirar, histórias segredadas, daquelas que sou


Tu, vem, sabes como me ouvir, vamos
Teu, o lugar, cultivo raízes em força que sinto
Eu, masco pastilha do teu sabor
Vá, vamos criar um canto em escuro recatado

Acredita, na força que segura o céu
Confere, a oportunidade para que brilhem as estrelas
Transporta, o desejo na ponta dos teus dedos à minha boca
Gasta, a língua que te guardo, a saliva que te destino


Vamos, enlouqueçamos no gozo, em absinto sentimento
Ébrio, esgotar a secura de não te beijar
Conta, as risadas em culpas menores e autos de fé
Jura, em irónica e casta promessa, tentando-me de novo

Vamos, não me obrigues a parar na tua via
Atropela-me, na explosão de me apertares com força
Erotiza, acende-me o cigarro e fuma de mim
Beija, ao meu ouvido, cada palavra traz o teu nome

Única, vivendo-te, toda dentro de mim
Pessoal, individual, secreta alma que tudo quer de ti
Vamos, chamando por cada alegria que me ocorre
Chove, os versos que escorrem em toda a face que temos


Aguça, o sentido em cores maiores com que me pintas
Maestra, saberei cantar-te melhor em silêncio
Apanha, ata-me pulsos ao teu peito, aperta-me mais
Vamos, vou roer a corda, rasgar-te toda em frágil papel

Pensar-te, mulher que estás em mim
Pisar-te, leito que faço de ti, pesar-te em delírio
Amar, sem parar de te viver, em cada espaço ou linha
Vamos, espera-nos o mais além, de quem te quer mais que querer