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quarta-feira, 28 de março de 2007

Espinho meu, espinho teu

Espinho meu, espinho meu
que me picas em ardor que não vejo
tanto sabor, guardado no copo
rasgo o tecido, na roupa que guardas

Teu cálice tomo por sagrado
liquido que me tolhe a fala
entorpecida escrita por desejo
espinho bravo, em botão de rosa

No abraço que tens
igual ao que se oferece
já nem me lembro de esquecer
tudo o que nem fui

Bradada será a voz da agrura
desbotada ao tempo que a fez
na minha tez, a secura de não beber
espesso sangue, tinta de viver

Espanto meu, que nem palavras bastam
espelho meu, espelho meu
espinho sou eu, e nem vejo quem sou
porque já não vou, fico-me no beber

Abraçar, liquefeito é o sentido
das palavras enegrecidas na vontade
espinho meu, espinho meu
sem rosto que tenho no fundo do copo

Soluço desfeito, à tua fonte desço
em espera dissoluta, absoluta envoltura
as curvas que inventas, na visão espinhosa
de tanto beber-te, nem veneno me vale

Assobio, rodopiando nas garras do sentimento
chega-me em bom tempo, com perfume em frescura
será chamar-te em tão bom nome, tecer-te
a teia, ladainhas de amor, brancura que me purga

Espinho meu, espinho meu
flor que te colho, espetando no coração
a dor de te amar, vestir-me de ti
espinho meu, crava-me em mais doer.

sábado, 24 de março de 2007

Sim!



Quero olhar-te
Ver-te mais além do que vejo
Sem que te veja na ausência
Sem que me veja sem ti

Olhar-te, talvez ver-te
Sem horizonte que limite
Sem tirar-te de onde estás
Olho-te nos olhos que me deste

Olhos nos olhos
Ombro teu, encosta no meu
E vermos todo um mundo
Toda uma vida a ser vista

Mirar-te, rever como me olhas
Conservar a visão de te encontrar
Entre a ternura do teu olhar
E no meu, amar-te.

E és linda…




imagem: Marco Neves
http://lampadamervelha.livejournal.com

quinta-feira, 15 de março de 2007

Então começa assim...

Fracturei ossos e dentes, em acidente pensados, premeditados. Provoquei danos, distúrbios, hordas sem nome, com uma nova mensagem nas mentes formatadas. Deformei espelhos e paixões, alterados na minha visão facciosa. Bebi tonéis de más intenções. Indefesas alminhas dançantes, sem dar possibilidade a uma consciência pura, que só por uma única vez me tomou a acção, a primeira.

Fui planeta mais que longínquo, sem nome, sem ter sido catalogado por um idiota qualquer. Quis ser estrada, interminável, no deserto que se vive em aprazível dia de desolação. Fui assim, secura de tempo, terra estéril, penedo isolado. Salgado fui eu, em sabor tão intenso, que amargava todas as línguas que me falassem.

Tanto fui que nem vilão sou mais. Fui até bom rapaz, paciente e observador. Hoje embebedo-me por ser feliz na minha razão, aquela que habita num maluquinho de rua. Pois bem, que mais poderei inventar aqui dentro, nesta cabeça que não sabe parar.

Oh, amor que não vês, sente a própria cegueira no caminho a percorrer. Oh, sangue que nada estanca, talvez a boca que me foge para o lado mais incerto, seja a resposta para a despida alma, da mesma forma como giz em parede rugosa.

Fundei um pais, mundo oculto, cultivado a meu prazer. Fiz sementeiras, nestes dedos que me escrevem a cada linha, completo-me aqui. O Mal, todo o que vive para além de mim, provoca-me a ânsia de nada mais saber. Sem querer, as pessoas enojam-me... e mais... e muito mais. Vou correr, nu, disposto a não parar. Derreto milhas, excomungo os meus princípios, os mesmos que se enrolam aos pés e me fazem cair. Vá, vou comportar-me, a aparência que se constrói, a estátua oca e carcomida, com direito a hino pessoal. A consternação em desacerto, desconsertado, foragido da lei vigente.

Não sei falar de mim, sem que aperte os dedos conta o pescoço. Sei-me tão bem que poderia fechar os olhos e continuar a falar de nada. Nada me supera, nem espero o que se espera. Nada é mais importante que os lugares onde já não estou. Não canto, nem descanso. Não vou dar mão de mim.

Minto, minto muito. É feio. Ai, que malandrice pegada, que bom! Vou continuar a limar fora das arestas, tornar-me mais anguloso. Tão cortante serei, até que mate o vento por completo.

Cuspo para o chão, sem pudor pela bucólica tarde. Obscuro, irei a encontros na mata, amante de mil amantes, sou eu todos e todas. Serei surdo para a melhor melodia, sem melhoras da febre que me faz viver. Afogar-me no ar que respire, inventar mais doenças para o Bem. A felicidade é vaga maré, finita. Morre onde começa a terra, morre na praia.

Arder, é bom ser-se comburente quando o combustível é escrever. Insónia, é melhor quando a seguir se sabe que não haverá tempo para dormir.

Quero droga. Quero mais do mesmo. Ser servido por subserviente desejo, de me encerrar no mais másculo pensamento. Ser invencível, o melhor, o bom que existe. Um chuto no vazio, no dia que já mostra cara do que será. Tomarei vinte e quatro, horas que são minutos de pensar no mesmo. É terrível articular-me sempre no mesmo sentido, o que não vem nos relógios. É difícil vestir a pele que tenho por dentro, roupa insuficiente para tapar o mínimo necessário.

Espero à esquina, pelo cliente que sou de mim, desejoso em lacunas sentimentais. Deteriorar-me na entrega, em troca de umas moedas. Olho-me nos olhos, faço-o comigo. Com força. Dói-me. Rasga-me. De tudo o que fica naquela cama, uma beata mal fumada, jaz no ventre criador de mim. Corto-me em finos fiapos, pesado a ouro, tingido a negro.

Voltarei para casa, deitando-me ao meu lado, no silêncio do que já não me une. Escondo o perfume barato, o suor que evapora a união das minhas faces. Nem uma palavra, nada do que já esteja gasto. Costas com costas, estas que tenho, para quem sou. Ao acordar, fintando-me ao espelho, direi novamente...
- Puta, sou tão deliciosa. Que horror!

terça-feira, 13 de março de 2007

Ar De Cor

Brilhante, reluzente e saborosa
Estica a tua língua para a minha boca
Lambe tudo o que sou, sorve com delicadeza
O corpo que tenho, a carne que te dou

Fodo a preceito, porque tanto quero foder-te
Foder é gozar, a soldo, a gosto e com jeito
Deitado e em riste, sem ligar ao feitio
Fodendo te fodo, dentro de ti correndo bem solto

Digo foder, porque amar é comer-te
De me vir dentro e fora de ti
Fodo-te, fodendo-me em palavra barata
E quando me fodes, enquanto fodes quem sou

Como da tua carne, sendo a minha alimento
Mais há para te foder, que a foda de ser
Injectando no teu ventre toda a viril vontade
Tesão em cordões de semente, que te preenchem a rodos

Fodo, em foda que é fazê-lo contigo
Esta que tanto fazemos, até morrer em castigo
No cigarro que se acende, na droga que se inala
Fodemos mais um pouco, fodendo quem somos

A tua excitação, na tua flor rubra e inchada
Libertas hormonas que mordo no ar
Crava-me incisivos na pele, as unhas no corpo
Cavernoso, esponjoso, tanto quanto fodes e te vens

É como seres ópio na boca e eu levar-te o cachimbo
Seres vitória e derrota, no êxtase de morrer em ti
Fodo-te à pressa, tendo tempo demais à espera
Querendo mais foder que propriamente foder-te

Expelir-me em espasmos, sôfrego engasgo de tusa
Depressa, com força, quero mais, fode-me mulher
Sou homem que vês, quero foder o que tens
Foder-te no fim, sem princípio que comece
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quarta-feira, 7 de março de 2007

Sem nome

Deixei entrar o pecado, por onde custa mais a sarar. A voz que obriguei a calar, embalada no meu próprio sono. Tento reatar o esquecimento à lembrança. Talvez até seja demasiado tarde, daqui a nada já eu próprio nem sou, e pouco ou nada evolui. Foi erro consumado, querer reinventar uma perda, daquele género que não se tem, de tanto querer que chega a doer, quando se atinge.

Seria um acto, um erro imperdoável, impróprio de quem quer ser mais do que realmente é, eu não sou. Redesenho em todo o papel, um outro cenário de morte, mesmo que não termine aqui, mas aqui termino. Seria demasiada, a sorte, afortunado serão em que todo o céu se torna num tormento somente, o meu.

Na obscuridade criada para mim, todo o meu conceito de vida fica em causa. O meu estado critico, tanta vez confinado à exígua vivência, em nada me resolvo, e por tudo me desfaço.

Acredita-se, em crença de quem mais quer, mais que Céu e Inferno, abstém-se de tudo mais, até de essência. Com tudo isto, sinto-me lasso na própria amarra. Talvez porque insista no erro de querer saber mais. Tudo, assim como nada, são unos na minha constante revolta, nas chamas que não me conformam.

Saberia melhor viver, sem ter a consciência que me tolda toda a pertinência, moldada ao feitio de antigo artesão. Como a mudança assiste à necessidade, sinto-me demasiado convencional, por saber que na verdade, tudo não passa de uma realidade inventada.

Invejo a simplicidade, toda a que tento copiar para mim. Os meus cães que se deitam ao sol, e o máximo que os consigo acompanhar, é fumar um cigarro ao lado dos seus corpos, quentes e sedosos.

A vida é trama engrenada, sem veios nem roscas. Não se trocam peças, muito menos papéis. Todo o qual renunciei, agora vivo-o na melhor forma que sei e conheço aparentemente. Mesmo que me mate aos poucos, como no cigarro que fumo, inalando todo o seu mal, o bem que me faz. Perderei anos a fio, de juízo enganador, pois não sou mais que eu mesmo, este que termina aqui.

Talvez me limite a não mais pensar, sem querer saber o que há para além da vistosa cortina. O espírito, assim desta única forma que sei, acusa o desgaste. Por vezes chego a estar tão farto de mim, de me ouvir e sentir a pensar. Por vezes pergunto-me para que serve tudo isto.

Para tudo há um limite, até mesmo para a nudez da alma. Como poderia desnudar-me e mergulhar num lago de farpas, se nem direito à dignidade existe. Dificultam-me a respiração, e sem rumo, fraquejo sem alcançar a praia. Do novo sabor que a vida me traz, na minha boca transporto sensação que me obrigo a esquecer. Assim não quer o destino, e forçado sou, a comer sem querer engolir. Basta-me o serão, olhando complacente, para as despidas paredes de recordações.

Atiço o lume, perco-me na chama que ilumina o resto que mostro. Os momentos inadiáveis, marcadores do caminho a seguir, são riscos que provoco na pele, pela caneta que não escreve. De toda a solidão que necessito, cuido a minha espera, no muro limitativo do espírito. Assim como qualquer outro ser, emergindo da necessidade de necessitar, o melhor que existe em mim, é já nada haver para contar.

Há um sentimento que nasce comigo. Eu nasço com o dia, e perdido na manhã que me cega, poderia engolir toda a névoa, e mesmo assim continuar perdido em campo aberto.

Aberto está o meu peito, sem chagas, apenas na voz que chama. Poderia pensar-te mais um pouco, mas farto já estou de te inventar. Sem ser aqui, preciso de ti.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Azul

A cor fatal, destinada a impregnar-me os sentidos, resultou num fracasso bem redondo e pesado. Pensei eu, na minha bondade, talvez seja resultado de uma má mistura de componentes. O Azul, triste e frustrado por não mais me alegrar, convencia-se em enfadonho degrade, que nada mais valeria pintar.

Era um rubro desejo de vingança. A maldita nuvem que me impede de brilhar. Azul, onde já não estás, nem vive o tom que me alegrava. Azul, porque sempre foste azul, e eu nem sei de que cor te pintas agora.

Segreda-se, aos soluços de cada voz, num esconderijo do coração, confissões e conspirações de paletas. Azul, diz-me que o mar te pertence, que o céu vive e morre em ti. Por esta cor, nada mais me interessa escrever, mesmo que escreva no papel a negro retinto.

Encomendo, à tua responsabilidade, a cor do olhar de quem me sabe ver. Ao sol ordenei o seu sorriso, tamanho de uma alegria de criança. Azul, diz-me que sou tão parecido a ti, mesmo que os meus olhos espelhem a terra. Não são enganos, nem prantos que me servem de capote. De azul tingido, o lago, até onde tudo termina, mesmo que o mundo tenha mais voltas a dar.

No seu encalço, retomando um caminho quase esquecido perdido, sigo em leve passo, querendo atingir o cerúleo, daquele sem nome. Mais que universal, marcando sem pressa de tempo, a hora de um beijo repartido.

Azul, que não desbote em mágoa, nem manche o lençol sem mácula. Marca-me antes em destino que te sou. Naufragar no mergulho lento em ti, sorridente, tendo presente na memória, tudo o que me resta de ti, azul.