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segunda-feira, 30 de maio de 2011

|pre|sente


Antes, gostava do que me fazia mal. Hoje, do errado.

terça-feira, 24 de maio de 2011

porque|nada

Porque não tenho jeito para outros feitios, muito menos uma cabeça completamente arrumada. Porque não sou de memorizar datas. Dos que nascem. Dos que morrem. Porque acho a saudade tão peçonhenta, que a olvido ao passar de uns tempos. Porque não me dou com whiskys nem outros destilados em pedrinhas de gelo. Porque o vinho me dilata as veias e nunca a paixão. Porque não me faço entre botões de punho ou na nesga de um sorriso de soslaio, num olhar vago para a cidade. Neste mundo a meus pés, cru e estanque, não há lugar para estoicismos forjados. Porque não me faço entre claros e escuros, e de facto, não vivo na própria sombra do sonho. Porque não gosto de sapatos. Porque o teu perfume continua a ser-me “O Eterno Desconhecido”. E sim, sou mal agradecido, porque é simples não gostar de me abrir ao mundo. Assim, secando ainda antes de molhar qualquer parte tua, porque não me revejo lá fora. Porque agrada-me olhar e rever-te. Noutros olhos. Noutras mãos. Noutras histórias. É sentir-te num sorriso de alguém que cruza por mim na estrada, num Sábado à tarde. E vi-te ali, na curva ligeiramente a subir, inclinada para a direita, entre eucaliptos e o alcatrão gasto. Eu sorria. Tu sorrias. Tu vinhas. Eu ia. E caso te contasse todos os pormenores que são possíveis assimilar em dois segundos, talvez necessitasse mais que o tempo que nos é permitido para existir. Porque sou um apaixonado, e sei que há coisas sagradas. Tu vais. Eu fico. Tu voltas. Eu já não existo. Porque não gosto de brindes em grupo. Porque gosto de ouvir os sons estranhos que o teu estômago consegue produzir. Porque continuo a dizer que o melhor cigarro é mesmo depois de foder. Porque a solidão é um lugar-comum e não para comuns. E tanto que prezo o silêncio das bocas. Porque continuarei a fumar cigarrilhas, de boxers, descalço, de cabelo desgrenhado, no suor de um dia. Porque te oiço, infindável em mim. Porque existe uma razão qualquer para gostar de ti. Porque sim, mais que querer, é ser-te.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

|as|severa

É cruel querer-te mais que nas palavras. Desejar-te mais viva no sangue, em todo o cerco à vida. Luz no meu corpo, ao querer-te assim, não chega apenas sonhar-te. O desejo é um brinquedo, perigosamente desprovido dessas, as palavras surdas ao ouvido. É cruel sentir-te tão fundo, tanto de mim esvaído por ti, na pele perfumada desse teu jeito tão... cruel.

É cruel fazer-te à distância de uma vida. Ou duas. A tua e a minha. É cruel saber-te. Desnudar-te. Decompor-te em cada linha das minhas mãos. É cruel tocar-te, e tanto que dói, sentir-te. Sem uma razão para sorrir, sofrer-te é bem melhor que outra condição. Condeno-te. Cruel é deitar-me no teu ventre, ouvir-te na voz de quem clama pelo silêncio.

E nada mais existe senão as tuas sedas, glosar aos teu lábios como são os meus. Um pequeno apontamento da dor, é colar-te a mim, de cada vez que me infliges mais esta dor. É cruel recordar-te, e sempre presente, dentro desta pele. Nas entranhas te sinto, ao arrepio de saber quando chegas e me tomas. De uma só vez. Crueldade de não me seres estranha. Não mais.

terça-feira, 17 de maio de 2011

|é| isso


Hoje acordei a falar sozinho. Talvez nem fosse falar, quando o desejo seria mais que expressar. Queria saber, lembrar-me melhor. Não consigo. É o medo de me repetir, de te repetir, repetirmo-nos. Repetindo-nos, uma e outra vez, na agradabilidade de quem se esquece de lavar as mãos, e pouco importa mais que isso. Tenho medo. Talvez por isso dê por mim a acordar de manhã, repetindo-me em palavras que não me lembro.


Nada fica como estava, muito menos com este cabelo. Nada fica como era. Nada. Nem quando me repito. A contradição é um apelo à revolta, sentido sentido, sentindo-me rebolar pelo pequeno jogo entre palavras, entre paredes. Entre o gesto calcado na pele e o da memória em decalque, tatuagem de água, tintura tingida a dois. De peito entreaberto a um laço que me toque, bem fundo, porque não me revejo nas superfícies. Esta carência, este desfasar logo ao princípio do dia, condiciona-me a desarticulação, a supressão de fechar os olhos e respirar bem fundo. Bem fundo. Bem fundo, como eu gosto, repetidamente. Bem fundo.


Quando as palavras não me sabem, e sabes, poderias estar aí desse lado a ler-me sem me sentir de todo, num todo, não se acolhe a intencionalidade com que são escritas. E tanto que as prezo silabicamente ao ouvido. Nos olhos. Nos lábios, calados. No gosto de as dizer, fazê-las à tua medida, à minha. Pronunciando cada aliteração de te desejar presente. Saber-te na devida medida, se na pele trazes toda a tua história. Às palavras inventam-se histórias, arremessam-se feitos, colam-se pessoas. Na pele não. Está lá.


Hoje acordei e deixei-me sozinho, a falar com uma hipótese que não fosse quem sou. Quando o desejo por me expressar vive onde não sou, e assim estou, condicionado. Gostaria de aprender a lembrar-me melhor das coisas. Talvez a falar-me num outro verbo que não possua presente. Ou render-me à evidência absolutista, se não sabes, inventa. Talvez, talvez, talvez não me repetisse tanto. Rebolar do parvo para o ridículo, saber olhar sem ver. Talvez seja melhor levantar-me e ir trabalhar. Nem mais, nem menos. É isso.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

|as|severa

É cruel querer-te mais que nas palavras. Desejar-te mais viva no sangue, em todo o cerco à vida. Luz no meu corpo, ao querer-te assim, não chega apenas sonhar-te. O desejo é um brinquedo, perigosamente desprovido dessas, as palavras surdas ao ouvido. É cruel sentir-te tão fundo, tanto de mim esvaído por ti, na pele perfumada desse teu jeito tão... cruel.



É cruel fazer-te à distância de uma vida. Ou duas. A tua e a minha. É cruel saber-te. Desnudar-te. Decompor-te em cada linha das minhas mãos. É cruel tocar-te, e tanto que dói, sentir-te. Sem uma razão para sorrir, sofrer-te é bem melhor que outra condição. Condeno-te. Cruel é deitar-me no teu ventre, ouvir-te na voz de quem clama pelo silêncio.



E nada mais existe senão as tuas sedas, glosar aos teu lábios como são os meus. Um pequeno apontamento da dor, é colar-te a mim, de cada vez que me infliges mais esta dor. É cruel recordar-te, e sempre presente, dentro desta pele. Nas entranhas te sinto, ao arrepio de saber quando chegas e me tomas. De uma só vez. Crueldade de não me seres estranha. Não mais.

domingo, 8 de maio de 2011

entre|bermas


Estrada fora. Porque a solidão é um lugar-comum. Não para comuns.

terça-feira, 3 de maio de 2011

|i|maquinário

O sorumbático censor de infortúnios e desavindas memórias, crê na vontade e não nas manhas do gosto. Arrebatador de ossos, mercador de deslocados olhares, condena a alma ao pecado do corpo e bebe-a na compulsividade de um não. Fosse a resposta uma fuga para a mentira, dir-se-ia capaz de engolir o mundo. Capaz de uma proeza, amar a mais expedita das certezas. O amor é um atributo dado a escolher aos homens, diluído entre eles e as praias em que tanta vez partiu para parte incerta. A máquina não.


A máquina regista cada batida, cada segmento do pensar. A máquina pinta a alma de negro. Azul. Vermelho como as letras néon do coração. A máquina insere, processa, procede, regista e exerce. Não promete. A pressão no pescoço, cervicais na tensão do arrepio. Antes arredio, que a máquina não esquece, esquenta, ou melhor que tente, impera.


A máquina volatiliza, relativiza, associa este daqui a um punhado de palavras de acolá. Além, onde muito aquém me fiquei por um olhar, assim meio turvo, meio maquinado. A máquina não credita. Acredita. Esta máquina de laminados sentidos, afiança, fina flor de segredo. Regressa o tempo e não as horas. Esquece o tempo e não as memórias. Rescua o tempo e não a demora.


De uma curvatura invisível, aplicada à língua que não sabe falar. Código dissidente, contabilizado em cavalos vapor, inaudita potência de me transpirar assim, inaudível. A máquina não sabe, ensina. Não acerta, correlaciona. Não instingue, indica. Digo-me capaz de sangrar por uma aparente acalmia. Faço-me coeso, e de tão intrínseco, debito-me em ruído sem imagem. A máquina limpa, reinicia.


O coiote de fibra, indutor do instinto feito mais que à pele, é desde a alma até ao pó. Caminhante cooperante, desconfia dos outros. Outros. Outros ainda os há, mais mecânicos, turbinados, aliciantes inoxidáveis de um reflexo irrepreensível. Enganem-se os mapas, não as estrelas. O salteador de corações do avesso, relojoeiro de um mal bater, descompassa-se no compasso que morreu na espera. Inibidor de males, que da tempestade se recolhe o vento. Inalador adicto daquele suspiro anterior à estocada. A máquina não.


A máquina será sempre a máquina. E eu.