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domingo, 10 de julho de 2011

a|nuvem

imagem: Marco Neves (C)


Havia uma nuvem que amava uma antena. Como quem sorri a um desconhecido, a um destino de nunca chegar, e se o tempo for aliado, ser-se parte integrante de uma história na história de outro. Não se guardava aos sonhos apenas, a nuvem que na espera, não reconhece o sinal, nem o embargo à continuidade dos dias. Havia sim, uma nuvem que sentia, e sonhadora, prendeu o seu olhar à estaticidade de alguém que apanhava do ar. Na frequência comum a tantos telhados, no canal destinado, falham as bandas definidas e passa-se à finitude de um gesto.

Havia uma nuvem que queria fugir para bem longe dali. Ser chuva noutros dias. Fazer sombra por outros campos. Transformar-se no sonho de outros olhos. Tingir paredes ainda de tinta fresca. Molhar mãos e rostos, escorrer por quem não tem medo da entrega. Sem ser o mergulho no desconhecido, é olhar bem para cima e povoar o coração de uma certa alegria que não se compra nem se inveja. Nasce e morre.

Havia uma nuvem que sabia quem era, e na sua condensação, nem uma lágrima verteu, porque um adeus não tem de deixar marcas ou feridas. Na sua premente transformação, beijou a antena, sorriu e fez-se em luz, dissipando qualquer dúvida que houvesse na sua intenção de exisitr. E bonita que era.